segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O amor no Colo.




A dor não pede compreensão, pede respeito. Não abandonar a cadeira, ficar sentado na posição em que ela é mais aguda.

Vejo homens que não têm coragem de terminar o relacionamento. Que não esclarecem que acabou. Que deixam que os outros entendam o que desejam entender. Que preferem fugir do barraco e do abraço esmurrado. Saem de mansinho, explicando que é melhor assim: não falar nada, não explicar, acontece com todo mundo.

Encostam a porta de sua casa (não trancam) e partem para outra vida.

Não é melhor assim. Não tem como abafar os ruídos do choro. O corpo não é um travesseiro. Seca com os soluços.

Não é melhor assim. Haverá gritos, disputa, danos. É como beber um remédio, sem empurrar a colher para longe ou moldar cara feia. É engolir o gosto ruim da boca, agüentar o desgosto da falta do beijo.

Será idiota recitar Vinicius de Moraes: "que seja infinito enquanto dure". A despedida não é lugar para poesia.

Haverá uma estranha compaixão pelo passado, a língua recolhendo as lágrimas, o rosto pelo avesso. Haverá sua mulher batendo em seu peito, perguntando: "Por que fez isso comigo?"

Haverá a indignação como última esperança.

Haverá a hesitação entre consolar e brigar, entre devolver o corte e amparar.

Vejo homens que somente encontram força para seduzir uma mulher, não para se distanciar dela.

Para iniciar uma história, não têm medo, não têm receio de falar.

Para encerrar, são evasivos, oblíquos, falsos. Mandam mensageiros.

Não recolhem seus pertences na hora. Voltarão um novo dia para buscar suas coisas.

Não toleram resolver o desespero e datar as lembranças. Guardam a risada histérica para o domingo longe dali.

Mas estar ali é o que o homem precisa. Não virar as costas. Fechar uma história é manter a dignidade de um rosto levantado, ouvindo o que não se quer escutar. Espantado com o que se tornou para aquela mulher que amava. Porque aquilo que ela diz também é verdade. Mesmo que seja desonesto.

Desgraçadamente, há mais desertores do que homens no mundo.

Deveriam olhar fora de si. Observar, por exemplo, a dor de uma mãe que perde seu filho no parto.

O médico colocará o filho morto no colo materno. É cruel e - ao mesmo tempo - necessário. Para que compreenda que ele morreu. Para que ela o veja e desista de procurá-lo. Para que ela perceba que os nove meses não foram invenção, que a gestação não foi loucura. Que o pequeno realmente existiu, que as contrações realmente existiram, que ela tentou trazê-lo à tona. Que possa se afastar da promessa de uma vida, imaginar seu cheiro e batizar seu rosto por um instante.

Descobrir a insuportável e delicada memória que teve um fim, não um final feliz.
Ainda que a dor arrebente, ainda é melhor assim.

-Fabrício Carpinejar-

domingo, 28 de agosto de 2011


Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,

o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço do terrestre,

salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,

depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.

-Drummond-

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Quando fui Chuva

Quando já não tinha espaço, pequena fui
Onde a vida me cabia apertada
Em um canto qualquer,
Acomodei minha dança, os meu traços de chuva
E o que é estar em paz
Pra ser minha e assim ser tua
Quando já não procurava mais
Pude enfim nos olhos teus, vestidos d'água,
Me atirar tranquila daqui
Lavar os degraus, os sonhos, as calçadas
E, assim, no teu corpo eu fui chuva
... jeito bom de se encontrar!
E, assim, no teu gosto eu fui chuva
... jeito bom de se deixar viver!
Nada do que fui me veste agora
Sou toda gota, que escorre livre pelo rosto
E só sossega quando encontra tua boca
E, mesmo que eu te me perca,
Nunca mais serei aquela que se fez seca
Vendo a vida passar pela janela...
-Luis Kiari-

quinta-feira, 30 de junho de 2011

... era o meu corpo que caía....


...No início era um precipício
um corpo que caía.
Depois virou um vício
(foi tão difícil)
acordar no outro dia...
Ele apareceu
parecia tão sozinho....
parecia que era minha 
aquela solidão....

sábado, 18 de junho de 2011

Você

 Depois de ser lembrança, depois que nos desligamos e nos perdemos , temo que não nos desacostumamos um do outro.
Os detalhes...  As palavras ainda estão tão presentes  tatuadas em nós.
É  tão complicado olhar tudo como se fosse uma fotografia. O que fazer?
E mesmo que eu esteja rodeada de sorrisos, de música, tudo é silêncio. Me vejo sozinha. Por que me entristeço?
Sua voz era um alívio pra todas as dores, e me sentir em seus braços,na sua pele macia, no toque leve das suas mãos era alegria, conforto, segurança...


-Espera amor, vou fazer um capuccino pra você...
 Não percebemos o quanto uma situação comum é  tão especial até não poder mais vivenciá-la.
O beijo docinho no meio da cozinha. 
O jeito de afastar meu cabelo atrás da orelha e beijar meu pescoço, simular que vai morder um pedacinho da orelha  pra que eu sinta  arrepio e deite a cabeça sobre o ombro... A maneira de colocar as meias, de escovar os dentes,de esfregar os pés nos meus como se me dissesse que estou segura...

-Estou aqui tá?!

E  então seus olhos me dizem que quer ficar e que vai voltar. E como são iludidos esses nossos olhos!


Todos esses momentos são tão concretos, tão intensos.... como pude pensar que poderia me esquecer? Ousar perder tudo isso! Confesso que desejei poder....

Fecho os olhos, tudo gira e me transporta pra esses detalhes, o abraço encaixadinho pra dormir, escutar sua respiração e perceber que adormeceu antes de mim. E ter a sorte de acordar depois de vc, com um beijo exagerado de saudade, como se a noite nos tivesse roubado muito tempo...

Por que? Por que tudo isso??

Por que não me encaixei na sua vida?
Por que não houve espaço pra mim? Pra nós...
Por que não tivemos tempo?

Agora...

Tudo isso se transforma num conto.

Onde buscar motivos pra manter aquele sorriso nos meus olhos?Aquele que vc gosta tanto...
Será que me lembrarei como era aquela Gaby? 

Tão difícil deixar de ser nós...

Como matar minha sede de você, como adormecer nossos desejos... como sufocar a vontade do seu gosto, do cheiro  do seu pescoço que mancha meu travesseiro, como endurecer o peito quando pensar em você é me derreter? Como conviver com suas palavras de amor, e nossas lágrimas sem perder a sanidade?
O que eu faço com tudo isso aqui que vc cultivou dentro de mim? Como ser irresponsável comigo mesma? Negligenciar o que sinto? 

Queria poder pedir pra respirar... 

Se tivesse mais vida, daria a você.
Se pudesse ir mais longe não olharia pra trás...
Não tentar mais entender foi o band-aid que escolhi, aceitar foi o remédio amargo que fui obrigada a tomar, mas te esquecer foge da minha capacidade.
Apenas acabou. 
Eu espero ter dito a você "eu te amo" quantas vezes que pensei em dizer, que tenha correspondido a todos os carinhos que desejou, ter mostrado o quanto preciso de você, como a minha vida se modificou desde que você passou a fazer parte dela, espero não ter poupado nenhum motivo pra um sorriso seu...
Agradeço por tudo que me ensinou, por tudo que me permitiu ensinar a você, por toda esperiência doce e inesquecível de viver perto de você. De ter você tão presente todos os dias,  da maneira que conseguia estar.

Desistir está longe de ser um ato de covardia , só eu sei de onde tirei forças pra me definir. E só você sabe o quanto lutei e o quanto esperei que tudo fosse diferente.
Será que vc sabe do que eu vou sentir mais falta?
Meu conforto vem dos seus olhos, ninguém pode ver neles o que EU posso . Ninguém....


Tudo vai ficar bem....

Obrigada. Eternamente.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

cinza

Triste que ainda confundam sabedoria e inteligência,comprometimento e compromisso, respeito e obediência, amor e casamento....
Mais triste ainda é achar que mudar um sofá de lugar faça milagres.
...e eu ainda confundo tanta coisa...
Preciso é terminar meu café e ir trabalhar.... Que noite!

Mt 7: 1-2

Se você acha menos e sente mais, julgar não se faz necessário.
Na verdade,  é mais fácil conhecer uma pessoa por suas perguntas que por suas respostas. 
Costuma-se maquiar os próprios conflitos e frustrações numa tentativa descuidada de anular culpas, falhas, fardos e pecados, pré conceituando fatos, levianamente, como se fossem classificáveis e julgáveis, esquecendo-se que os envolvidos em situações delicadas e ordinárias que discutem em pauta, são pessoas, e não objetos de estudo.
Como julgar a subjetividade de cada um? As escolhas, as histórias? Todas as particularidades merecem respeito e gentileza.
Que medida se usa pra julgar que em uma situação específica, uma pessoa é covarde, fraca, carente ou egoísta??Quem é vítima, baseando-se em que? Que alternativas cada pessoa tem ou teve, e diante de quais circunstâncias algo ocorreu pra que agissem diferente? 
As variáveis ambientais, comportamentais e até temporais são infinitas, e  não podemos pretender sermos capazes de saber exatamente todas elas, e como ocorreram. Elas mudam; São particulares demais....
No amor, a razão é indefinível.... Nunca quis estar certa ou não ter culpa,adulta que sou, sei das minhas responsabilidades e consequências, mas espero somente o respeito e compreensão. 
Espero que não se machuquem mais do que já nos ferimos, e que se houver cicatrizes, o tempo passe depressa....Chega ser lógico. Não sou cruel.


"Julgar os outros é perigoso. Não tanto pelos erros que podemos cometer a respeito deles, mas pelo que podemos revelar a nosso respeito." Voltaire